"Rebuliço" é uma das canções que tenho, com certa frequência, escutado bastante nos últimos meses desse ano. Na verdade, nem sabia que o pessoal da Monbojó tinha lançado, ainda em 2014, um novo álbum. Faz parte já que tinha um bom tempo que não passava o meu coração nas belezas que esse peculiar grupo pernambucano sempre consegue produzir.
Há um percalço
Há um defeito em mim
Um rebuliço
Algo não soa bem
Um descompasso
Não há vestígios
Ninguém pra incriminar
Sem resultados
Tudo como convém
Me desmantelo
Não vou me conformar
Há um defeito em mim
Um rebuliço
Algo não soa bem
Um descompasso
Não há vestígios
Ninguém pra incriminar
Sem resultados
Tudo como convém
Me desmantelo
Não vou me conformar
Parece que esses moços gostam de participar dos pontos de inflexão da minha caminhada. Quando pense neles e nesse agenciamento, entre eles e eu, que perdura por quase uma década, da primeira vez que fui na Chapada.
Lembro das várias canções que docemente saiam daquele mp3 player bem vagabundinho que eram moda em 2000 e lascou. Uma viagem que tinha tudo para dar errado, onde tudo impossível aconteceu mas, que foi uma das viagens mais proveitosas que já fiz.
Aquela foi uma viagem definitiva, uma daquelas que (des)formatam a gente para outros (des)caminhos.
É interessante sentir o Mombojó, lá atrás, dez anos antes, fazendo parte daquele ponto singular de mim, lá nas montanhas baianas, assim como agora, (re)fazendo-me, dobrando de tamanho e de ternura, ao caminhar na terra da garoa (Julho), na adocicada e inesquecível Cachoeira (Junho), ou na montanha de bits/bytes de Porto Alegre (Julho).
Obviamente, não poderia deixar de citar, o quão poderosa são essas minhas andanças pelas várias cidades que existem em Salvador. É incrível o quanto eu aprendo e o quanto fico mais e mais apaixonado pelas belezas, pelo fel, pela miséria e desespero que essa cidade não cansa de mostrar aos meus olhos.
Casa de Iemanjá. Bairro do Rio Vermelho, em Salvador |
Queria fazer um post para cada uma dessas viagens. Mas, como sintetizar tudo que vivi em Cachoeira? Como colocar por aqui as delícias gastronômicas, a desejada solidão dos primeiros dias ou, a oceano de carícias e de companheirismo dos dias subsequentes?
Como transportar até aqui a sensação de se viver, como disse de maneira apropiada Godard, entre um bando de malfeitores, daqueles e daquelas que senti o afago doce e gentil lá nas bandas da congelante São Paulo, da gélida Porto Alegre?
Como passar aqui o gosto do sol que encheu de vida, de vida vivida minhas fuças ao passear sorrateiramente por minha querida Salvador?
Por isso mesmo, como todo mundo já sabe a impossibilidade e a fraqueza desse meio, a escrita, vou rabiscando aqui algumas coisas, só para dizer que tenho ainda esperança com esse meio menor.
Mas voltando...
O que quero dizer é que em cada lugarejo desse, embrenhado-se em mim e nas pessoas que encontro em cada esquina, é sempre bom ver, sentir e, por isso mesmo, amar apaixonadamente outros seres que de acordo com as suas singularidades enfrentam esse mundão. É bonito olhar com a nossa propia pele e deixar-se acarinhar-se pelas mãos daqueles e daquelas que estão calejadas de darem muro nas pontas das facas mais afiadas, de gente que simplesmente não conseguem a adaptação, não conseguem viver de mãos dadas com o conformismo dessa ignóbil e imensa vida besta.
Hostel em Porto Alegre |
Dias de epifania e de suor,
De coração em realejo e de pequeninas vitórias,
Cachoeira |
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