Talvez a mais sulfurosa das verdades seja que a existência, pelo suas partes mais encantadas, seja construída pelas pérolas que encontramos nas milhões de estradas da nossa vida.
Ontem, naquele coreto de cidadezinha, deixei que uma dessas pequeninas jóias deixassem um oceano de bem querer em mim.
Que surpresa alegre
Você vim chegando
Ao nascer do sol
Bons ventos lhe troussem
Que não mais te levem
Num triste arrebol
Já faz tanto tempo
Que eu não esperava o teu regressar A surpresa é grande
Mais sempre bem vinda pode entrar Se agora voltou o passado ficou Bem distante pra tras, pra tras
E um novo arrebol revelou-se Desvendou-se, nasceu
Que surpresa alegre
Bem vindo amada
Chegue-se a mim
Cravos e açucena plantei
Pra você em nosso jardim.
Sono meio partido, entre o tapete e a cama, entre roncos e levantadas até o banheiro, regado ao áudio de videoaulas (só durmo com alguma coisa ligada, geralmente algum vídeo do Youtube) sobre empacotamento no Debian e as boas lembranças do dia de ontem.
Como não ter sonhos redondos depois do passeio no final da noite , naquele desenlace engraçado e juvenil, lá na Camicado, atrás de xícaras ?
Como não ter o sono dos justos depois de ler tantas planilhas, pdf e repassar a outros/outras sonhadores sobre o quão é vexatória licitação do BRT de Salvador ?
Como não ficar emocionado vendo, na volta pra casa, toda aquela fauna e flora da Avenida Juracy Magalhães e saber que daqui a pouco tempo ela será destruída ?
Nas últimas semanas, via planet e outras sub-redes, tenho acompanhado as notícias que envolvem o lançamento do novo Debian.
Neste novo ciclo, estabelecido já há alguns anos, a cada dois anos o Debian lança uma nova versão. E neste momento faltam poucos dias para o aparecer
o Debian 9, de codinome Debian Stretch.
Por isso, estava
olhando as novidades e pensando se irei mudar do meu mais que lindo
Debian 7. Estou totalmente feliz com ele e não vejo, até o momento em
trocar.
Passando aqui e acolá acabei por descobrir quem ficou responsável pela arte dessa nova distribuição.
Olha que lindeza !!!
A nobre pessoa chama-se Juliette Taka Belin e, dando uma pesquisada achei o singelo trabalho dessa artista.
Bom ver que o trabalho colaborativo poderá ser entendido e utilizados por falantes de 75 idiomas, suportando 8 arquiteturas e rodando exatos 51687 pacotes.
Maiores detalhes podem ser vistos, em português lusitano, aqui, neste pdf.
Neste feriadão, bem carrancudo como já é tradição nestes dias chuvosos de Junho vou, ao som carinhoso de "Toque Dela" (2011 - Marcelo Camelo), passando os olhos nos milhões de tarefas que programei para hoje.
Primeiro, para abrir a manhã, comecei com a leitura do meu presentinho de Dias dos Namorados. Trata-se do livro "Caymmi: Som, Imagem, Magia (1985 - Sargaço Editora).
Nas primeiras páginas acabei por descobrir que ele faz parte de um projeto de dois discos que, tempos atrás, acho que no último FISL, encontrei no Mercado Municipal de POA.
Essa era uma história para eu ter contado por aqui, da história da vendedora, bem velhinha, contando sobre como ela sofreu com o incêndio do Mercadão, ainda em 2013 (curiosamente a última vez que estive em Porto Alegre), dos discos que perdeu.
Lembro que ela, em um determinado momento da nossa conversa, perguntou de onde eu era. Ao saber que era de Salvador, aquela senhorinha sulista abriu um sorriso enorme e disse, com um garboso sotaque carregado:
- Tenho aqui um negócio pra ti.
Como resistir à aqueles três discos de Caymmi ? Eles brilhavam e cantarolavam aquela voz negrumosa e cheia de sargaço que tanto já acalentou as minhas paragens pensativas. Não tive como resistir apesar do preço salgado.
O importante é ser feliz e ter milhões de conversas para colocar aqui para vocês.
Eu acho que nada é mais baiano do que isso. Ir a Porto Alegre e voltar de mãos dadas com o arquiteto da baianidade.
Agora, dois dos três discos se irmanam com o livro. Aliás, cousa mais linda ele. Entre suas páginas bem cuidadas apesar dos seus 33 anos de existência, podemos ler um belo prefácio do Jorge Amado. Além disso, a autora, Marilia Barboza, possui uma prosa daquelas que a gente fica com vontade de devorar o livro de uma vez só. A parte ruim é saber qual a Fundação que patrocinou a obra... Comportamento costumeiro da classe artística baiana que ama viver nos palácios dos donos do poder local.
Acalanto, carinho, confidências, risos e mais risos, respeito
mútuo... São tantos e tantos afetos que tenho receio de soar de maneira
jocosa. Mas, quem é que consegue não soar assim quando o coração bate no
descompasso da ventania?
Óbvio que estamos às vésperas do 12 de Junho.
Porém,
mesmo que de certa maneira tudo isso perpasse o mundo do consumo e as
modorrentas datas fe$tivas do comércio, vale a pena ter um momento, de
silêncio e de preguiça, para que se avalize e avalie o quão importante
é, para a história pessoal de cada um, o encontro com determinadas
pessoas.
Deleuze, via Espinosa, gosta de chamar isso do "bom" encontro.
Fiquei
horas e horas naqueles sulfurosos e idílicas pausas, daquelas bem
gordas que a gente adormece acabrunhando-se na ribeira do sofá. Acordei,
tomei um ártico copo de café e achei que o legal mesmo era ficar na
frente do computador.
Ledo engano. Caminhar de círculos concêntricos que originou um nó górdio na minha cabaça. Meu cursor, lá pelas bandas do VIM, não arregimentou nenhuma das palavra azulada que rezei para aparacer.
Sendo
assim, tragado pelo vazio, fiquei ali no algoritmo de
recomendação do Youtube. Mais uma vez Deleuze apareceu :) E foi assim,
neste mar de imensas sensações, que as velas de içar do meu velho
saveiro acharam, uma ametista que cantarolasse o quão generosa tem sido
a experiência desse meu encontro com a Dona Iaiá.
Caso você me perguntasse por esse nome, o do Antônio Variações a mais ou menos uma semana atrás, eu não faria a menor ideia do que você estaria a falar.
Pelo bom e pelo mal que temos a boa vontade do acaso. Foi através do Filipe Catto que escutei essa delicada canção e tive a oportunidade de conhecer este espetacular artista português.
Canção do Engate
Tu estás livre e eu estou livre E há uma noite para passar Porque não vamos unidos Porque não vamos ficar Na aventura dos sentidos
Tu estás só e eu mais só estou Tu que tens o meu olhar Tens a minha mão aberta À espera de se fechar Nessa tua mão deserta
Vem que amor Não é o tempo Nem é o tempo Que o faz Vem que amor É o momento Em que eu me dou Em que te dás
Tu que buscas companhia E eu que busco quem quiser Ser o fim desta energia Ser um corpo de prazer Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera Do melhor que já não vem E a esperança foi encontrada Antes de ti por alguém E eu sou melhor que nada
Para a delícia ficar completa, segue a nascente dessa gratidão pela vida, pelo amor, por tudo.
Enquanto o som da vitrola canta alguma música aleatória dos Strokes,
Ou a cabeça divaga entre um e outro trecho .py,
Tento tecer as minhas reflexões sobre os caudalosos anos de
2013, 2014... 2017.
"Aos nossos amigos", do Comitê Invisível, é
um texto absolutamente necessário para quem quer avançar e sair da
mesmice dos eternos esquetes anti-capitalistas, libertários,
autonomistas, etc e tal.
Sair do roteiro, sair do armário dos nossos herméticos templos e encarar o fato, pragmaticamente, que temos que agir como loucos. Chega de apanhar, de sorrir enquanto ocorre uma judicialização da nossa luta, de abaixo assinados que não resolvem nada. Chega do festim dos memes das redes sociais e dos pleitos no Avaaz.
Nossas
ações cotidianas precisam arriscar tirar o impossível da prateleira da
utopia e tornar-lo factível aos "não inciados", aos de fora das nossas
seitas pueris.
"[...] Mas por maior que seja a desordem por baixo dos céus, a revolução parece por todo o lado asfixiar na fase de motim.
Na melhor das hipóteses, uma mudança de regime sacia por instantes a
necessidade de mudar o mundo, para muito rapidamente reconduzir à mesma
insatisfação. Na pior, a revolução serve de estribo a esses tais que,
falando em seu nome, não têm outra preocupação senão liquidá-la. Noutros
sítios, como em França, a inexistência de forças revolucionárias
suficientemente confiantes nelas próprias abre caminho àqueles cuja
única ocupação é justamente simular a confiança em si e de a apresentar
como espetáculo: os fascistas.
A impotência azeda.
Neste ponto,
há que o admitir, nós os revolucionários fomos derrotados. Não porque
não tenhamos perseguido a “revolução” enquanto objetivo após 2008, mas
porque fomos privados, de forma contínua, da revolução enquanto
processo. Quando fracassamos podemos atirar-nos contra o mundo inteiro,
elaborar com base em mil ressentimentos toda a espécie de explicações, e
até explicações científicas, ou podemos interrogar-nos sobre os pontos
de apoio que o inimigo dispõe em nós próprios e que determinam o
carácter não fortuito, mas repetido, das nossas derrotas.
Talvez
nos possamos questionar sobre o que resta, por exemplo, de esquerda nos
revolucionários, e que os condena não apenas à derrota mas a um efeito
de repulsa quase geral. Uma certa forma de professar uma hegemonia moral
para a qual não dispõem dos meios é, também entre eles, um pequeno
defeito de esquerda.
Tal como essa insustentável pretensão a
decretar a forma justa de viver – aquela que é verdadeiramente
progressista, esclarecida, correta, desconstruída, não‐suja. Pretensão
que enche de desejos de morte quem quer que se encontre dessa forma relegado para as fileiras dos reaccionários-conservadores-obscurantistas-limitados-campónios-ultrapassados.
A apaixonada rivalidade dos revolucionários com a esquerda – a vendida,
a luxuosa, a governamental – é precisamente o que os mantém no seu
terreno.
Bom, eu sou acadêmico do curso de Engenharia Elétrica da Unifacs e tenho grande interesse na área de Processamento Digital de Sinais (PDS), sobretudo no estudo de sistemas não determinísticos e no processo de produção de música com o auxílio do computador.