Enquanto o som da vitrola canta alguma música aleatória dos Strokes,
Ou a cabeça divaga entre um e outro trecho .py,
Tento tecer as minhas reflexões sobre os caudalosos anos de 2013, 2014... 2017.
"Aos nossos amigos", do Comitê Invisível, é um texto absolutamente necessário para quem quer avançar e sair da mesmice dos eternos esquetes anti-capitalistas, libertários, autonomistas, etc e tal.
Sair do roteiro, sair do armário dos nossos herméticos templos e encarar o fato, pragmaticamente, que temos que agir como loucos. Chega de apanhar, de sorrir enquanto ocorre uma judicialização da nossa luta, de abaixo assinados que não resolvem nada. Chega do festim dos memes das redes sociais e dos pleitos no Avaaz.
Nossas ações cotidianas precisam arriscar tirar o impossível da prateleira da utopia e tornar-lo factível aos "não inciados", aos de fora das nossas seitas pueris.
"[...] Mas por maior que seja a desordem por baixo dos céus, a revolução parece por todo o lado asfixiar na fase de motim.
Na melhor das hipóteses, uma mudança de regime sacia por instantes a necessidade de mudar o mundo, para muito rapidamente reconduzir à mesma insatisfação. Na pior, a revolução serve de estribo a esses tais que, falando em seu nome, não têm outra preocupação senão liquidá-la. Noutros sítios, como em França, a inexistência de forças revolucionárias suficientemente confiantes nelas próprias abre caminho àqueles cuja única ocupação é justamente simular a confiança em si e de a apresentar como espetáculo: os fascistas.
A impotência azeda.Neste ponto, há que o admitir, nós os revolucionários fomos derrotados. Não porque não tenhamos perseguido a “revolução” enquanto objetivo após 2008, mas porque fomos privados, de forma contínua, da revolução enquanto processo. Quando fracassamos podemos atirar-nos contra o mundo inteiro, elaborar com base em mil ressentimentos toda a espécie de explicações, e até explicações científicas, ou podemos interrogar-nos sobre os pontos de apoio que o inimigo dispõe em nós próprios e que determinam o carácter não fortuito, mas repetido, das nossas derrotas.
Talvez nos possamos questionar sobre o que resta, por exemplo, de esquerda nos revolucionários, e que os condena não apenas à derrota mas a um efeito de repulsa quase geral. Uma certa forma de professar uma hegemonia moral para a qual não dispõem dos meios é, também entre eles, um pequeno defeito de esquerda.
Tal como essa insustentável pretensão a decretar a forma justa de viver – aquela que é verdadeiramente progressista, esclarecida, correta, desconstruída, não‐suja. Pretensão que enche de desejos de morte quem quer que se encontre dessa forma relegado para as fileiras dos reaccionários-conservadores-obscurantistas-limitados-campónios-ultrapassados.
A apaixonada rivalidade dos revolucionários com a esquerda – a vendida, a luxuosa, a governamental – é precisamente o que os mantém no seu terreno.
Larguemos as amarras! [...]"
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