Lendo aqui, nesta quarta-feira de cinzas, a Tese de Doutoramento intitulada "
Trabalhadores migrantes nos canaviais paulistas: Sociabilidades, condições de trabalho e formas de resistências" de Marcelo Saturnino da Silva (UFCG,2011), encontrei uma passagem de outro trabalho (CANDIDO; MALAGODI, 2010, p13)¹ que realmente demonstra algumas das avaliações que percebo dentro do movimento sindical.
"Para desencadear um processo de luta de classes não é suficiente que exista uma instituição representativa, mas que as circunstâncias políticas, econômicas e morais estejam postas, ou seja, o sindicato combativo pode contribuir para a luta, entretanto não determina a existência da luta."
Incrível o quanto de material sobre o campo do trabalho e a crise de representatividade instituição sindical. Sempre bom ler como essa situação se repete em outras instâncias do setor produtivo e as estratégias de resistências que estão a ser criadas.
Inspirador.
Mas indo um pouco além, creio que muitas vezes, a maior parte do tempo sem perceber, estamos apenas aumentando o bolo "dos de sempre". O pior é que pensadores como Marx e Luckács acreditam que o trabalho é uma questão central nas nossas vidas.
Na verdade, sendo o mesmo uma construção "burguesa", ele nada mais é do que uma fonte tripartite de mais valia, de obtenção de prestigio moral e de identidade social. E acreditar nisso é também crer que a inexorabilidade da importância da classe trabalhadora no processo revolucionário.
Será que essa tal classe ainda é, assim como o povo Judeu, os eleitos a terem em suas mãos as rédeas de um suposto processo revolucionário ? A classe trabalhadora, com todos os ganhos pós Segunda Guerra Mundial, passa por tanta privação assim que a obrigue a não ter outro caminho que não seja o estabelecimento de uma revolução ?
Sinceramente não espero isso da classe a qual pertenço. Nos preocupamos com a prestação do carro, com o financiamento da casa, com a educação dos meus filhos, com a cerveja gelada que encontra-se na geladeira. O que ocupa nosso tempo é o que iremos fazer quando não estivermos dentro da fábrica.
Não nos preocupamos muito com o coletivo e essa não é uma situação na qual as lideranças, assim como acreditam os T
rotskista, os
Morenistas ou
Leninistas de plantão, tenham alguma culpa.
O anseio, aliás a necessidade de mudança radical - aqui atrelado ao contexto de uma mudança na raiz do sistema capitalista vigente, pode advir atualmente daqueles que chamados como pessoas em situação de rua, os trabalhadores clandestinos nos países de desenvolvimento industrial não tardio, as minorias étnicas, os desterrados em seus própios países etc.
Estes, sejam eles e elas classificados como
Lumpenproletariat ou não os que podem ser os protagonistas de uma mudança radical.
Aliás o própio Bakunin²³ já levantava dúvidas em relação ao aculturamento que o operário sofria ao participar da sociedade burguesa através do mundo do trabalho e em como isso diminuía seu ímpeto revolucionário.
Frantz Fanon também cita em ''Os Condenados da Terra" o potencial do Lumpenproletariat na Guerra da Argélia e a necessidade de educar o mesmo sobre o que ele, em profundidade, estava atacando e criando ao colocar-se em uma atividade revolucionária.
Vejam como
"Instruir para Revoltar" sobre as bolsas de trabalho de Pelloutier ou mesmo o
"Pedagogie et Revolution" do Grégory Chambat (como eu queria que meu Francês fosse menos sofrível) entrariam como uma luva aqui não acham ?
Na minha opinião, esses são o que não perderiam nada neste mundinho faz de conta que vivemos.
Os demais estão como
Lafargue falou
“Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a riqueza social e suas misérias individuais, trabalhem, trabalhem para que, ficando mais pobres, tenham mais razões para trabalhar e tornarem-se miseráveis. Essa é a lei inexorável da produção capitalista”.
1- CÂNDIDO, Paulo e MALAGODI, Edgard. Mobilização de Trabalhadores Canavieiros e Ação Estatal no Setor Sucroalcooleiro do Nordeste Brasileiro. Ponencia presentada no VIII Congresso da ALASRU, Porto de Galinhas, 2010.
2 - THOBURN, Nicholas Difference in Marx The Lumpenproletariat & the Proletarian Unnamable. Disponível em: <http://libcom.org/file/Thoburn%20-%20Difference%20in%20Marx%20The%20Lumpenproletariat%20&%20the%20Proletarian%20Unnamable.pdf
> Acesso em: 09 Fevereiro de 2011.
3 - EM: Acesso em: 05 Fevereiro de 2011.