quarta-feira, 8 de abril de 2020
domingo, 5 de abril de 2020
Limão na beira da estrada é sinal que podemos fazer limonada saborosa
Domingo sempre é um dia que promete, sempre é domingou pra mim. O de hoje
promete ser um dia bem ensolarado e com a tábua de maré dizendo isso, fica
sossegado ir na praia (Paciência ou Bacia das Moças) depois da minha atividade
física.
![]() |
Praia da Paciência, no bairro do Rio Vermelho, Salvador - Bahia |
Além disso, tentarei, no dia de hoje, agilizar algumas pendências relativas à adequação dos custos mensais com o corte salarial implementado pela empresa onde trabalho.
Enfim, uma hora ou outra teríamos, como os outros trabalhadores do país, que sofrer por causa do COVID - 19 (acentuada queda da demanda de óleo dentro e fora do país) bem como, aí algo específico da nossa indústria, a variação abrupta do valor do Brent ocasionada pela disputa entre OPEP e Rússia.
A empresa divulgou um material mas, infelizmente, não tenho autorização para
colocar aqui sem infringir o código de ética da companhia. Sendo assim, coloco
aqui algumas medidas tomadas pela alta diretoria.
Se achou um limão da beira da estrada... Vamos procurar agora o açúcar para a limonada!!
Será interessante ver, na vida real, como é trabalhar 06 horas por dia e como lidarei com tanto assim. Essa vivência, essa experiência, será ainda mais interessante pois, será um tempo de nova morada em uma nova cidade, Macaé/RJ, onde os problemas inerentes ao deslocamento urbano e distanciamentos casa - trabalho, são quase nulos quando comparados à Salvador.
Mesmo com a queda da renda, é algo que queria vivenciar uma hora ou outra da minha vida.
Por causa de tanta mudança, seja pelo COVID - 19, sejam pelas mudanças inerentes a possibilidade de saída total ou parcial da Petrobras do NNE, tenho tentado ajudar os colegas, de alguma forma, mínimo que isso possa ser, para tentar mostrar que toda mudança é um campo que sempre podemos ver algo positivo.
Enfim, acredito fielmente que o afeto significa cuidar das pessoas, independentemente se essas pessoas concordam conosco, se torcem pelo Jahia de Itinga (vulgo Esporte Clube Bahia) ou se a pessoa diverge em alguns sentidos do que eu penso. Mas, existe, obviamente, o limite da minha boa vontade versus divergência, principalmente com pessoas que tratam desrespeitosamente condição da existência humana.
Algumas perguntas ficaram "sobrenadante" após esse acontecimento.
Não só pra mim mas, e isso é maravilhoso, na cabeça dos colegas que são pessoas mais esclarecidas, que são pessoas que sempre que faço o doce exercício da escuta, da escuta sincera e, como um deles sempre coloca, empática, melhoro mais como ser humano.
- Será que a gente, classe operária com poder aquisito de classe média/classe média alta, não estávamos em um consumismo muito exacerbado ?
- Será que podemos viver mais com menos ?
- Não está no momento de mudar de vida, de ter algo para além da nossa empresa ?
Mas vamos seguindo...
Marcadores:
2020,
COVID_19,
Petrobras,
quarentena,
Salvador
sábado, 4 de abril de 2020
xicara azul
essa xícara de café
é meu sorriso severo
é meu sorriso severo
em mais uma selvagem noite infinita,
enquanto tento tatear
todos esses escombros da máquina partida
percebo que meus cabelos,
já grisalhos como o de muitos,
agora florescem rubros,
enquanto tento tatear
todos esses escombros da máquina partida
percebo que meus cabelos,
já grisalhos como o de muitos,
agora florescem rubros,
em chamas.
e nessa calmaria,
e nessa calmaria,
da porta fechada
e rua transbordando moscas
eu relembro que meus dias mais inesquecíveis
foram quando a minha bussóla
era a dança do encontro.
foram quando a minha bussóla
era a dança do encontro.
quero encontrar sem querer,
o que e quem
talvez e todavia
cru e cozido
PRECISA -SE
dos vadios pragmáticos
e dos altivos derrotados
colo e carinho
mãos e beijos que amolem
colo e carinho
mãos e beijos que amolem
meu coração taciturno
quero ele
quero ela
quero toda essa multidão
que ainda não deixou desbotar
o azul em suas vidas
o azul em suas vidas
domingo, 29 de março de 2020
nuvem passageira
Nuvens alaranjadas
sempre passam
diante das nossas retinas.
diante das nossas retinas.
Mas,
nem por isso são,
necessariamente,
tão somente engarrafamento rabecão
na porta do Campo Santo.
Outras pulsões
de maneira sorrateira
aproveitam pra rasgarem
a azulada abóbada
Para tanto e para tudo
até mesmo o mais nobre dos intentos
se faz necessário
o silêncio
o cinismo
a malícia
Copo cheio
copo vazio
Matita Terê dançando com Ramalho
Bem ali, na curva, bem ali onde o velho silêncio caminha sem pressa, sem pressa de sair de cena, que eu tenho meus pés com afinco.
Como uma frondosa jaqueira, daquelas com a copa cintilante de idéias, fico aqui, encarregado de esperar a noite ir dormir.
Com ardor, todo santo dia a ventada do mar tenta, em vão, me convencer que isso não é cousa que deva gastar pestanas. Sopra então, seu hálito macilento, com perfume de anis de sargaço, lembrando que bem perto existeque lençóis de cetim e corpo mais que carinhoso.
Mesmo assim, nessa hora derradeira, coloco aquele capote cansado. Não esqueço de costurar , nessa forragem carcomida pelos avessos de outrora, essa trama estranha, esse linho de sussurro de "Crônica de uma Casa Assassinada" + " Rancho das Nuvens".
Como sou peri_gozo, pinto esse casaco disforme com a paleta sensual que preguiçosamente rabisca, passo a passo, minuto a minuto, todas as nuvens ao meu redor. Enraivecido, louco de ciúmes, o mar, em conluio com a noite, tenta, através do tempo, gestos desesperados contra a minha pessoa:
alarmes tocando,
Google Calendar piscando,
"volta pra cama amor",
boletos vencendo hoje,
(etc)
Nada adianta para quem tem fome pela chegança, pelo grito e soluços do bebê, pelo raiar das possiblidades de tentar refazer, sobre tudo e sobre todos, de novo e de novo.
E assim, na ingratidão com os mortíferos de plantão, nessa dança contida de auto sublevação, sigo, entre uma linha de código e outra, entre um conselho e outro do Luciano Ramalho, caminhando tenaz diante de todos os precipícios.
O dia vai brilhar e mais um condenado da terra foi arrebatado pela vida.
Vai logo, vai com pressa e compra um barco, uma marreta de 20 kg e boa quantidade de brita e de cimento.
Enxuga o suor, toma um banho do Belo que no fim do fim do mundo, na ponta dessa sua ilha do afogado, você vai encontrar as condições perfeitas para construir uma ponte até aquela outra ilha, aquela ali que é tão ou mais íngreme quanto a sua.
Foda-se ! Seje Arquipélagos.
Marcadores:
2020,
programando,
quarentena,
Tom Jobim
quinta-feira, 26 de março de 2020
No horizonte, mil Clarices.
É incrível como a dinâmica da vida é insuperável e o quanto que as crises são uma oportunidade de mudança.
Os vírus, que na Biologia não são nem tratados como seres vivos (são na verdade parasitas intracelulares obrigatórios) , serão as molas propulsoras de uma gigantesca mudança cultural na forma de trabalhar em todos os ramos da economia global.
Nunca pensei que veria tanta gente e em tão pouco tempo dominando, com grande desenvoltura, o teletrabalho, o uso massivo de videocom, de organizadores de tarefas, etc. Estamos, em tempo real , remotamente mas, em rede, vivendo uma grande revolução.
Tenho visto isso tanto na empresa que trabalho como em outras áreas da economia. O que temos que ter um pouco de atenção, em relação a todas essas mudanças, é em torno da velocidade. Processos acelerados demais vão, em última instância, gerar um sofrimento excessivo em uma sociedade tão ansiosa como a nossa.
Porém, acho que ao menos temos a chance, que não estava no nosso horizonte, de pontos de inflexão positivos.
Tudo vai depender para onde a humanidade vai querer caminhar. Inimaginável ver um amplo programa de renda mínima ser implementado nos EUA pelo Partido Republicano... Surreal ver Macron defender o sistema público de saúde depois de massacrar os profissionais em uma greve que aconteceu ano passado.
O mundo é realmente uma bola, em eterno movimento e, de tempos em tempos, esse movimento pode trazer um horizonte de um novo rearranjo.
Por fim, nesses tempos que estou a ler a maravilhosa biografia sobre a Clarice Lispector (Clarice, Companhia das Letras) segue uma frase da nossa grande escritora que achei bem pertinente para esse momento.
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento !!"
Marcadores:
Clarice,
COVID,
mudanças,
teletrabalho
quarta-feira, 25 de março de 2020
Minas, 1975
"Hoje não passa de um dia perdido no tempo...".
Miltão em Beijo Partido, no antológico álbum Minas cantarolando sem parar aqui no pé dos meus ouvidos, meus laptops rodando e minha xícara de café.
É isso.
Chuva danada lá fora, uma pandemia global que assusta toda a humanidade, tudo muito escuro e aqui, no meu quintal, um orixá vai sussurrando em mim (vocês já ouviram Milton Nascimento em Ponta de Areia, nesse disco?) alguma coisa inexplicável, como um doce abraço de alguém desconhecido mas, e ao mesmo tempo, um gesto, um abraço sincero de pai e mãe.
Ainda não compreendi muito bem o que tem levado as pessoas a toda essa reticência em achar chato essa quarentena por causa do COVID - 19.
Entenderia isso advindo das classes com maior grau de precarização socioeconômica, pela obviedade da possibilidade da perda dos exíguos "empregos" ou outras formas modernas de sub sobrevivência dos atuais condenados da terra.
Porém, ver esse desespero da classe média e classe média alta, que são aqueles que tenho contato, demonstra o grau de escárnio que essas pessoas tem diante de si quando olham no espelho da sua depauperada (in)existência.
Sempre, desde que vou puxando da memória mais longínqua, lá longe longe, na adolescência consciente (1998 em diante), lembro de ficar assim das 02:00 da manhã em diante, ouvindo sem parar os CD dos meus pais que ficavam na sala.
Não deixaram castelos, casa de praia, barras de ouro mas, vinis e cds do melhor da MPB.
Lembro que nessa época, cada movimento do meu corpo era extremamente bem calculado, os milímetros eram vencidos passo a passo, pisando macio no freio para não acordar ninguém.
Obviamente que meu utensílio obrigatório, dia após dia, era aquele fone de ouvido imenso, com a fiação espiralada até o conector P10 e todo esculhambado, com a conexão toda remedada é que toda hora eu tinha que apertar com fita isolante para não perder um dos lados da saída de áudio.
Era um amanhecer beijando e deglutindo bem devagarinho a régua e compasso de Raul Seixas e, principalmente Caetano Veloso. Chico, Gil, Roberto Carlos, Jards, Milton, Tom Zé, Jobim, Queen of the Stone Age, Bethânia apareçam bem bem depois.
Esses dois foram os Vice Reis da minha caixola por muito tempo.
Também, além dos Cds, tinham as fitas que meus amigos Tasso e, notadamente Marcelo, lá do inesquecível CEFET - BA, trocavam comigo.
Foi assim que fui conhecendo e povoando meu ser com gente como Rush, Nirvana, Pink Floyd e Rage Against the Machine.
Vagando mais ainda, foi ali, nesse ponto da minha história que, ali, alone alone, naquela especial loja da Aky Discos, nessas andanças a pé que sempre gostei de fazer por Salvador, na inóspita (para pedestre andarilho) Avenida Juracy Magalhães, quase na entradinha do Horto Florestal/Embasa, que o acaso e a beleza da arte da capa, me fez levar OK Computer, do Radiohead pra casa.
O finalzinho da madrugada sempre foi pra mim um bálsamo e uma tenra mentira pois, tinha que dia após dia voltar 20 minutos antes, até minha cama, no quarto que dividia com minha avó, para que minha mãe não soubesse que eu, assim como ela e minha avó, tinha uma baita insônia, mesmo que essa fosse positiva.
Espero que todos possam experimentar essa possiblidade de refazimento, de reflexão e amor a si.
Ps: Minha avó ficava sabia de tudo mas ficava calada, só saboreando saber que seus genes estavam ali presentes.
Assinar:
Postagens (Atom)
Quem sou eu
- Colombiano
- Bom, eu sou acadêmico do curso de Engenharia Elétrica da Unifacs e tenho grande interesse na área de Processamento Digital de Sinais (PDS), sobretudo no estudo de sistemas não determinísticos e no processo de produção de música com o auxílio do computador.