quarta-feira, 29 de abril de 2020

Xuxa, minha primeira palmitagem?

Quem quer pão, 
Quem quer pão, 
Quem quer pão.
Que tá quentinho, 
Tá quentinho, 
Tá quentinho.
Tão gostosinho, 
Gostosinho, 
Gostosinho.
Quero mais um, 
Mais um.


Conclusão: Sendo, segundo algumas línguas viperinas, um bom exemplo de palmiteiro da Cidade da Bahia, fechei o laço e descobri quem foi que trouxe a diabetes até meu corpo. Essas branquinhas são de lascar 😗😗😗

Observação: Não sacou que diacho de lance é palmiteiro, palmitagem ? Ficou achando que é um tipo de nova mania hipster?

Sugiro fortemente o vídeo sobre o tema feito pelo Spartakus Santiago, que você pode acessar aqui .

terça-feira, 28 de abril de 2020

Conversando com os meus

A única saída mais sensata é rir, centralizando a vida na teatralização da mesma, criando, quando possível, espaços íntimos de hospitalidade. Esse viver melhor, na esfera do íntimo vai possibilitar uma caminhar que possa, da porta da rua em diante, lá fora, bem devagarinho, experienciar ações de hospitalidade, de convivialidade na esfera da vida e na gestão das nossas cidades.

Mas, com 57 milhões de pessoas com uma crença persistente, com uma crença  fortíssima em um Salvador da Pátria, de centro esquerda ou de direita proto fascista (ou fascista), fica difícil crer em espaços comunitários de uma vida citadina com mais doçura.

Mas, muita água há de rolar ribanceira abaixo até que cheguemos nesse porvir de fora...

Acabo por falar disso pois, esses tempos de Tarifa Zero, vivendo meia década pertinho do gueto, pertinho de quem está construindo a luta nas camadas mais vulneráveis, o buraco é quente e bem bem bem mais embaixo do que imaginamos. 
A reprodução dos anseios da casa grande entre nós (a classe média letrada) e entre os mais precários é algo pujante e visceralmente presente em todas as esferas do modo de ser e de viver da nossa gente. 

Romper com isso, com toda essa lógica, só ocorrendo um mundo distópico como esse abnormal que estamos a experimentar desde o dia 13/03/2020. Contudo, salvo a situação piorando ainda mais, o norte ético será a barbárie mesmo e ponto final. Em alguns lugares do mundo periférico, como as regiões no entorno de Manaus, isso já está a ocorrer.

Por lá, em 10 dias não irá existir mais urna funerária, caixões.


Por isso, ficar muito preocupado, muito preocupada com o que vai ocorrer, com o que será esse novo normal, é a pior ação que a gente pode ter. 

É ter calma pra sobreviver, viver um dia de cada dia, cuidando da saúde mental, da saúde financeira e seguindo em frente, é ainda o melhor caminho.

Nosso antepassados fizeram assim e ainda tiveram tempo de construir um legado de dádivas (samba, favela, feijoada, candomblé, carnaval, umbanda, tropicália, o drible do futebol, bossa nova, quilombo, recôncavo baiano, etc) para que a gente tivesse régua e compasso para alcançarmos mundos melhores do que o que eles e elas viveram. 


Talvez, essa sensação, essa alteridade negativa seja por causa do nosso esquecimento. 

No beiral entre 30 - 45 anos, estamos um pouco com a moleira ainda na mocidade, sem lembrar que a cloaca, o desamor, a violência sempre foram os alicerces desse país. 

Os momentos mais "democráticos" aliás, mais suaves, sempre foram efemérides nacionais.

De fato, o projeto colonial ainda continua a caminhar, ao menos seus escombros, entre nós. Idem para a ditadura de 64, que nunca realmente acabou pra quem é pobre. A CF 88 e sua intrincada concertação político-econômica, que começou a ir para o beleléu, lá no no incêndio usurpado de 2013, nem mesmo chegou aos rincões do nosso país. 

Nem a zorra do "fim" da escravidão chegou ainda para muitos de nós.


Mas, indo além, fazendo esse exercício da futurologia da Mãe Dinah, da saudosa Mãe Senhora, sem ter a magia do òpèlè, esse novo normal só vai ser, na minha humilde opinião de politólogo de final de semana, um espraiar do velho normal, do atual cotidiano que já acontecia com os mais vulneráveis de hoje, para as camadas médias. 

A miséria vai subir de patamar e de degrau, pulando mais "pra cima", inundando o território sócio-econômico onde todos e todas daqui do grupo vivem atualmente. 

Nosso espaço social vai ter o pau, o porrete e a carestia que tinham sumido desde o meio do primeiro Governo FHC, só que acrescidos da sanha de todo esse tempo que ficou contida. 

Assim, teremos o teletrabalho em massa para os profissionais liberais (que em grande maioria somos) tendo corte substancial dos salários, redução da jornada de trabalho com redução absurda dos parcos direitos trabalhistas, redução da influência e poder das entidades de classe. 

Na experiência do morar, teremos  aumento do custo de moradia do tipo de morada que hoje temos acesso, vamos ter que migrar pra outro tipo de casa de pombo.

E aqui, aqui vamos sofrer de montão. O que vai ter de "crise do eu", de subjetividade rompida, uma tristeza sem fim em cada esquina do mundo hipster, mundo esse extinto.

Nessas horas eu gostaria de ser psicanalista ou algo assim rasteiro... Binho, dermato não vai ser mais o m$lhor das paradas de $ucesso... 

Psiquiatria môpai !!

O poder de consumo não vai mais permitir que a classe média letrada vá ao seu desejado "paraíso". Os níveis de consumo que hoje, onde temos acesso aos _bens culturais,  à "alta" cultura já foi. 


Esqueçam aquele vinho importado, _os livros da estante virtual, _aquele vinil gostoso, _viagens nas férias, _carro, _educação de qualidade, _plano de saúde... Fodeu e vamos já, com certa urgência, preparando o orì pra essa nova vida velha.

Lembremos que já vivemos assim por muitos anos e que a maioria dos nossos patrícios vivem assim. Aliás, mais sobrevivem que vivem.

O grave da situação é que mesmo com todo esse mundo virando de ponta à cabeça, inclusive  o horizonte revolucionário, avizinha-se. Digo isso pois, tudo muito que assemelha -se a um 1914 global, com o cheiro conjuntural de assim termos a possibilidade de um outro "1917", nos faltam "os russos loucos" conversando e planejando, em uma Suíça da vida, sobre revolução, sobre um Novo Aeon. 

Todavia, como a esquerda já não existem mais, morremos de morte morrida, vai ter que ser criado, no calor dessa sofreguidão, formas de resistências, de frenagem a sanha do capital. 

Teremos que reexistir e caminhar nesse deserto precário para, quem sabe, "os russos loucos" sejam nosso filhos, filhas, no amanhã de amanhã.

O puro ato de resistir sem reexistir, no sentido corporativista desse pathos, tem sido um parto. Na greve passada, deste ano, daqui dos petroleiros, a coisa foi muito difícil.

No final, a sensação é que tá todo mundo neném, todo mundo tateando tudo e não lendo que o outro lado da luta social evoluiu, mudou a tática bem como seu plano de imanência. 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Livro de banheiro

Para muitos, um banheiro pode ser um lugar bastante inusitado para que seja encontrado um livro. É, na maioria das casas, passadiço para revistas de fofoca ou esconderijo das revistas ditas masculinas.

Porém, aqui em casa sempre aportaram grandes livros. Por aqui, em verdade, os livros que estão a ser devorados no momento, os protegê que prendem atenção e jogam a nossa existência para aquele mar fundo e calmo do horizonte, sempre vivem por essas plagas.

O atual é essa biografia do Jorge Amado, sensacional e belamente escrita pela Joselia Aguiar.  Conheci esse livro através de uma chamada do Canal Arte 1, onde a escritora fazia uma listagem das obras fundamentais de Jorge Amado.

Um dia, junto com a Ane, fomos lá, no Cinema Glauber Rocha ver algum filme Belas Artes e na linda livraria LDM, bem na vitrine, estava esse livro. 

Levei o da vitrine mesmo, filho único do espaço.

A obra é um daqueles livros que você quer ler em uma sentada só, daqueles que você abandona mulher, emprego, praia (também não vamos exagerar) pra ficar ali, derretendo-se em cada passagem da vida do maior escritor baiano de todos os tempos.

Das biografias que li, "só fica atrás" da de Pierre Verger ( do Jean Pierre Le-bouler ) a de Clarice Lispector (do Benjamin Moser) e a de Stálin (Stephen Kotkin).

O livro da Josélia é saboroso, assim como a vida de Jorge na infância, Jorge sendo o intelectual militante do comunismo, Jorge e Zélia, Jorge e sua plêiade de amigos e amigas enfim, a vida de um escritor que como poucos soube fazer da própria vida uma obra de arte.

Apesar de tantos livros, de tantas histórias, o escritor, vizinho por anos de minha avó, minha mãe,  foi o responsável por convencer-me a usar roupas coloridas e a amar ainda mais meu recôncavo, minha Bahia, nossa Salvador.

Quando estiverem em Salvador não deixem de visitar a Casa de Jorge Amado, tanto a do Pelourinho como a do Rio Vermelho.

domingo, 12 de abril de 2020

Belchior, não adianta pedir !! O LSD já acabou.

Algumas pessoas já completaram um mês de claustro. E aí, nessa estadia em alto mar em cimento e asfalto, entre os vômitos verbais e demais tentativas presidenciais de quebrar o isolamento social, vamos, com toda cristandade, perdoando as delinquência menores.

Sejamos sinceros... Quem  ainda não pecou, aqui, na blogueirândia, falando alguma coisa, dissertando sobre algo sem que, por míseros  milésimos de segundos que fosse, fizéssemos  uma leve pausa para pensar, naquele ato de conversa interior que fazemos com os nossos botões, se aquela questão pontuada, aquela colocação iria realmente acrescentar alguma coisa pra vida de Quelé.


Estamos empolgados demais para cousas assim... Desculpa minha impertinência 😔


De live em live, nos últimos 29 dias dessa Pompéia Tropical, cujo rei conectou a bolsa de colonoscopia no crânio, penso muito, muitíssimo em Belchior. Poderia ser Chorão mas, vou ficar com o charmoso bigodudo de Coração Selvagem.


Penso no nosso maior cearense, fitando tudo isso, com aquela cara amarrada, dedilhando pacientemente seu violão enquanto educadamente pergunta, aos passantes que encontram-se na sala de estar, no pequenino cubículo onde ficam as televisões retransmissoras do que acontece aqui na geleia geral,  perguntando, perguntando incessantemente, que diacho de LSD foi esse que distribuíram por aqui.

Enfim, ninguém vai morrer de tédio. Como disse Bergson, somos a única espécie que faz rir.

sábado, 11 de abril de 2020

Bananas Podres versus o suicídio de Fagner



Traduzir-se (CBS, 1981) é um dos melhores trabalhos de Raimundo Fagner.

Em 2016, quis o grande arquiteto levar um dos meus mais favoritos, aquele que é o pai do poema que virou canção e título desse album. Faz muita falta aquele que, generosamente, escreveu "Poema Sujo", "Nasce um poeta", "Homem Comum", e o livro que mora aqui, em casa, com todo cuidado do mundo, o "Bananas Podres" , que amo tanto.


Em 2019, Raimundo resolveu não esperar o chamado. Pegou uma corda, abraçou Bolsonaro e matou-se, enforcado com a própria língua.

Por muito pouco eu não espatifei esse disco na parede. Ainda bem que não 😄

Traduzir-se (Ferreira Gullar)

Uma parte de mim
é todo mundo;

outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. 

Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza
e solidão. 

Uma parte de mim
Pesa, pondera;
outra parte
delira. 

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte se espanta. 

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente. 

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem. 

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Bug#922020 Keyboard layout not applied in programs using Xwayland.

Que bug chatinho... Vou investigar mas, parece alguma interação entre o Xwayland e o Firefox.

domingo, 5 de abril de 2020

Limão na beira da estrada é sinal que podemos fazer limonada saborosa



Domingo sempre é um dia que promete, sempre é domingou pra mim. O de hoje
promete ser um dia bem ensolarado e com a tábua de maré dizendo isso, fica
sossegado ir na praia (Paciência ou Bacia das Moças) depois da minha atividade
física.


Praia da Paciência, no bairro do Rio Vermelho, Salvador - Bahia











Além disso, tentarei, no dia de hoje, agilizar algumas pendências relativas à adequação dos custos mensais com o corte salarial implementado pela empresa onde trabalho.


Enfim, uma hora ou outra teríamos, como os outros trabalhadores do país, que sofrer por causa do COVID - 19 (acentuada queda da demanda de óleo dentro e fora do país) bem como, aí algo específico da nossa indústria, a variação abrupta do valor do Brent ocasionada pela disputa entre OPEP e Rússia.

A empresa divulgou um material mas, infelizmente, não tenho autorização para
colocar aqui sem infringir o código de ética da companhia. Sendo assim, coloco
aqui algumas medidas tomadas pela alta diretoria.

Se achou um limão da beira da estrada... Vamos procurar agora o açúcar para a limonada!!

Será interessante ver, na vida real, como é trabalhar 06 horas por dia e como lidarei com tanto assim. Essa vivência, essa experiência, será ainda mais interessante pois, será um tempo de nova morada em uma nova cidade, Macaé/RJ, onde os problemas inerentes ao deslocamento urbano e distanciamentos casa - trabalho, são quase nulos quando comparados à Salvador.

Mesmo com a queda da renda, é algo que queria vivenciar uma hora ou outra da minha vida.

Por causa de tanta mudança, seja pelo COVID - 19, sejam pelas mudanças inerentes a possibilidade de saída total ou parcial da Petrobras do NNE, tenho tentado ajudar os colegas, de alguma forma, mínimo que isso possa ser, para tentar mostrar que toda mudança é um campo que sempre podemos ver algo positivo.

Enfim, acredito fielmente que o afeto significa cuidar das pessoas, independentemente se essas pessoas concordam conosco, se torcem pelo Jahia de Itinga (vulgo Esporte Clube Bahia) ou se a pessoa diverge em alguns sentidos do que eu penso. Mas, existe, obviamente, o limite da minha boa vontade versus divergência, principalmente  com pessoas que tratam desrespeitosamente condição da existência humana.

Algumas perguntas ficaram "sobrenadante" após esse acontecimento.


Não só pra mim mas, e isso é maravilhoso, na cabeça dos  colegas que são pessoas mais esclarecidas, que são pessoas que sempre que faço o doce exercício da escuta, da escuta sincera e, como um deles sempre coloca, empática, melhoro mais como ser humano.

  1. Será que a gente, classe operária com poder aquisito de classe média/classe média alta, não estávamos em um consumismo muito exacerbado ?
     
  2. Será que podemos viver mais com menos ?
     
  3. Não está no momento de mudar de vida, de ter algo para além da nossa empresa ?


Mas vamos seguindo...

sábado, 4 de abril de 2020

xicara azul




essa xícara de café
é meu sorriso severo 
em mais uma selvagem noite infinita,

enquanto tento tatear
todos esses escombros da máquina partida
percebo que meus cabelos,
já grisalhos como o de muitos,
agora florescem rubros,
em chamas.

e nessa calmaria,
da porta fechada
e rua transbordando moscas
eu relembro que meus dias mais inesquecíveis
foram quando a minha bussóla
era a dança do encontro.

quero encontrar sem querer,
o que e quem
talvez e todavia
cru e cozido

PRECISA -SE
dos vadios pragmáticos
e dos altivos derrotados
colo e carinho
mãos e beijos que amolem 
meu coração taciturno

quero ele
quero ela
quero toda essa multidão
que ainda não deixou desbotar
o azul em suas vidas




domingo, 29 de março de 2020

nuvem passageira

Nuvens alaranjadas
sempre passam
diante das nossas retinas.

Mas,
nem por isso são,
necessariamente, 
tão somente engarrafamento rabecão
na porta do Campo Santo.

Outras pulsões
de maneira sorrateira
aproveitam pra rasgarem 
a azulada abóbada

Para tanto e para tudo
até mesmo o mais nobre dos intentos
se faz necessário 
o silêncio
o cinismo
a malícia 

Copo cheio
copo vazio

Matita Terê dançando com Ramalho

Bem ali, na curva, bem ali onde o velho silêncio caminha sem pressa, sem pressa de sair de cena, que eu tenho meus pés com afinco.

Como uma frondosa jaqueira, daquelas com a copa cintilante de idéias, fico aqui, encarregado de esperar a noite ir dormir.

Com ardor, todo santo dia a ventada do mar tenta, em vão, me convencer que isso não é cousa que deva gastar pestanas. Sopra então, seu hálito macilento, com perfume de anis de sargaço, lembrando que bem perto existeque lençóis de cetim e  corpo mais que carinhoso.

Mesmo assim, nessa hora derradeira, coloco  aquele capote cansado. Não esqueço de costurar , nessa forragem carcomida pelos avessos de outrora, essa trama estranha, esse linho de sussurro de "Crônica de uma Casa Assassinada" + " Rancho das Nuvens". 

Como sou peri_gozo, pinto esse casaco disforme com a paleta sensual que preguiçosamente rabisca, passo a passo, minuto a minuto, todas  as nuvens ao meu redor. Enraivecido, louco de ciúmes, o mar, em conluio com a noite, tenta, através do tempo, gestos desesperados contra a minha pessoa:

alarmes tocando, 
Google Calendar piscando, 
"volta pra cama amor", 
boletos vencendo hoje,
(etc)

Nada adianta para quem tem fome pela chegança, pelo grito e soluços do bebê, pelo raiar das possiblidades de tentar refazer, sobre tudo e sobre todos, de novo e de novo.

E assim, na ingratidão com os mortíferos de plantão, nessa dança contida de auto sublevação, sigo, entre uma linha de código e outra, entre um conselho e outro do Luciano Ramalho,  caminhando tenaz diante de todos os precipícios.


O dia vai brilhar e mais um condenado da terra foi arrebatado pela vida. 

Vai logo, vai com pressa e compra um barco, uma marreta de 20 kg e boa quantidade de brita e de cimento. 

Enxuga o suor, toma um banho do Belo que no fim do fim do mundo, na ponta dessa sua ilha do afogado, você vai encontrar as condições perfeitas para construir uma ponte até aquela outra ilha, aquela ali que é tão ou mais íngreme quanto a sua. 

Foda-se ! Seje Arquipélagos.

quinta-feira, 26 de março de 2020

No horizonte, mil Clarices.

É incrível como a dinâmica da vida é insuperável e o quanto que as crises são uma oportunidade de mudança.

Os vírus, que na Biologia não são nem tratados como seres vivos  (são na verdade parasitas intracelulares obrigatórios) , serão as molas propulsoras de uma gigantesca mudança cultural na forma de trabalhar em todos os ramos da economia global.

Nunca pensei que veria tanta gente e em tão pouco tempo dominando, com grande desenvoltura,  o teletrabalho, o uso massivo de videocom, de organizadores de tarefas, etc. Estamos, em tempo real , remotamente mas, em rede, vivendo uma grande revolução.

Tenho visto isso tanto na empresa que trabalho como em outras áreas da economia. O que temos que ter um pouco de atenção, em relação a todas essas mudanças, é em torno da velocidade. Processos acelerados demais vão,  em última instância, gerar um sofrimento excessivo em uma sociedade tão ansiosa como a nossa.

Porém,  acho que ao menos temos a chance, que não estava no nosso horizonte, de pontos de inflexão positivos. 

Tudo vai depender para onde a humanidade vai querer caminhar. Inimaginável ver um amplo programa de renda mínima ser implementado nos EUA pelo Partido Republicano... Surreal ver Macron defender o sistema público de saúde depois de massacrar os profissionais em uma greve que aconteceu ano passado. 

O mundo é realmente uma bola, em eterno movimento e, de tempos em tempos, esse movimento pode trazer um horizonte de um novo rearranjo.


Por fim, nesses tempos que estou a ler a maravilhosa biografia sobre a Clarice Lispector (Clarice, Companhia das Letras) segue uma frase da nossa grande escritora que achei bem pertinente para esse momento.

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento !!"

quarta-feira, 25 de março de 2020

Minas, 1975

"Hoje não passa de um dia perdido no tempo...".

Miltão em Beijo Partido, no antológico álbum Minas cantarolando sem parar aqui no pé dos meus ouvidos, meus laptops rodando e minha xícara de café. 

É isso. 

Chuva danada lá fora, uma pandemia global que assusta toda a humanidade, tudo muito escuro e  aqui, no meu quintal, um orixá vai sussurrando  em mim (vocês já ouviram Milton Nascimento em Ponta de Areia, nesse disco?) alguma coisa inexplicável, como um doce abraço de alguém desconhecido  mas, e ao mesmo tempo, um gesto, um abraço sincero de pai e mãe.


Ainda não compreendi muito bem o que tem levado as pessoas a toda essa reticência em achar chato essa quarentena por causa do COVID - 19

Entenderia isso advindo das classes com maior grau de precarização socioeconômica, pela obviedade da possibilidade da perda dos exíguos "empregos" ou outras formas modernas de sub sobrevivência dos atuais condenados da terra

Porém,  ver esse desespero da classe média e classe média alta, que são aqueles que tenho contato, demonstra o grau de escárnio que essas pessoas tem diante de si quando olham no espelho da sua depauperada (in)existência

Sempre, desde que vou puxando da memória mais longínqua, lá longe longe, na adolescência consciente (1998 em diante), lembro de ficar assim das 02:00 da manhã em diante, ouvindo sem parar os CD dos meus pais que ficavam na sala. 

Não deixaram castelos, casa de praia, barras de ouro mas, vinis e cds do melhor da MPB.

Lembro que nessa época, cada movimento do meu corpo era extremamente bem calculado, os milímetros eram vencidos passo a passo, pisando macio no freio para não acordar ninguém.

Obviamente que meu utensílio obrigatório, dia após dia, era aquele fone de ouvido imenso, com a fiação espiralada até o conector P10 e todo esculhambado, com a conexão toda remedada é que toda hora eu tinha que apertar com fita isolante para não perder um dos lados da saída de áudio. 

Era um amanhecer beijando e deglutindo bem devagarinho a régua e compasso de Raul Seixas e, principalmente Caetano Veloso. Chico, Gil, Roberto Carlos, Jards, Milton, Tom Zé, Jobim, Queen of the Stone Age, Bethânia apareçam bem bem depois.

Esses dois foram os Vice Reis da minha caixola por muito tempo. 

Também, além dos Cds, tinham as fitas que meus amigos Tasso e, notadamente Marcelo, lá do inesquecível  CEFET - BA, trocavam comigo. 

Foi assim que fui conhecendo e povoando meu ser com gente como Rush, Nirvana, Pink Floyd e Rage Against the Machine. 

Vagando mais ainda, foi ali, nesse ponto da minha história que, ali, alone alone, naquela especial loja da Aky Discos, nessas andanças a pé que sempre gostei de fazer por Salvador, na inóspita (para pedestre andarilho) Avenida Juracy Magalhães, quase na entradinha do Horto Florestal/Embasa, que o acaso e a beleza da arte da capa, me fez levar OK Computer, do Radiohead pra casa.

O finalzinho da madrugada sempre foi pra mim um bálsamo e uma tenra mentira pois, tinha que dia após dia voltar 20 minutos antes, até minha cama, no quarto que dividia com minha avó, para que minha mãe não soubesse que eu, assim como ela e minha avó, tinha uma baita insônia, mesmo que essa fosse positiva.

Espero que todos possam experimentar essa possiblidade de refazimento, de reflexão e amor a si.

Ps: Minha avó ficava sabia de tudo mas ficava calada, só saboreando saber que seus genes estavam ali presentes.

terça-feira, 24 de março de 2020

Separação inseparável

Enquanto termino as minhas preces a Ogun,
em mais uma terça feira qualquer
observo o ventinho bom,
que vem do alto mar bem no meio da madrugada.

Vejo também, 
no cume calmo do meu recinto
Esse delicioso joguete infinito
da madrugada em teimar em não ir dormir
enquanto que a leste é bem devagarinho, 
vem esqueirando-se um novo dia
por demais alaranjado.

Ahh, apesar de toda essa beleza
penso reiteradas vezes 
que esse oleoso pano alaranjado
vai roubar de mim 
um Federal Reserve de preciosidades.

Esse ventinho das 05 da manhã

O barrulho da moto,
Do entregador do jornal 
que não eh meu

As gatas cantarolando 
no seu cio madrugal
E todos os outros ciosos cios
vividos aqui e acolá
Só soul eu pq
vocês me quiseram um dia

Istopô
Moqueca
Coragem pra resistir
Um Banho de Mar às 06:00 da manhã
O belo nos pequenos detalhes

Vão se foder seus filhos da puta
Fascistas do caralho
Entreguistas.

Eu vou mas,
vôo vai ter. 

Levo tudo isso comigo.
Se fuderam

Quem sou eu

Bom, eu sou acadêmico do curso de Engenharia Elétrica da Unifacs e tenho grande interesse na área de Processamento Digital de Sinais (PDS), sobretudo no estudo de sistemas não determinísticos e no processo de produção de música com o auxílio do computador.